Poesias e Trovas

CONHEÇA AQUI AS TROVAS E POESIAS DO ADVOGADO E TROVADOR BISSEXTO 


Circunstâncias existem neste velho mundo

Que nos invadem e moldam a existência.

Juram os crentes que são obras do Divino e

Até os mais céticos admitem a transcendência.

 

Ao se apresentarem inteiras em nossas vidas

Nem ainda reunimos experiência para avaliar

A dimensão daquilo que vai nos arrebatar.

Apenas sentimos que vão passando bem devagar

Sem perceber que cravam n'alma a consistência.

 

Aí um dia o tempo nos desperta da letargia e

Faz-nos cônscios dessa Graça alvissareira

Advinda porque amealhamos pelo caminho

Leais amigos, frutos de amizade verdadeira e

Que assim o foram, ao longo da vida inteira...

 

 Verão de 2013     Jose Mauricio de Barcellos



O ACRÓSTICO DO AVÔ

(1)

Luz e sinal de esperança no

Universo de amor de Luisa e André

Compensação maior p'ros avós, na

Alegre vinda que encanta, como um

Sublime presente de DEUS a todos nós.

 

Outono de 1997    JOSE Mauricio de Barcellos


........................................................................


ALMA ERMA

 

Hei garota! Espera um tantinho.

Você que pela vida vai perpassando,

Está ouvindo meu coração agora?

Releve se lhe roubo o tempo,

Mas o que vou pedir não demora.

 

Será que poderia gostar um pouco de mim?

É só isso, nada mais. É tão simples assim.

Gostar de mim. Por muito talvez não seria....

Algo efêmero, mas forte. Acha que poderia?

 

Por quanto tempo? Bem, não vou dizer.

O tempo quem faz é você, só não lamento.

Será pelos momentos que você me quiser.

E a rigor é sempre mais do que tenho.

 

Sendo desse jeito, fazemos um trato.

Nada de sofrer, de mentira, de abandono.

Se for alegre a gente ri, se for triste chora.

Perdidos no fundo desse envolvimento e

Convictos de que nunca se vai embora.

 

E se caminharmos juntos dessa maneira

Consinta que em nós cresçam por dentro

O amor sentimento e a entrega inteira,

Sem fórmulas, sem contrato, sem preconceito...

 

 

E depois? Será como o bom Deus disse

Aquele amor, força de tudo, da vida é a fonte,

Não conhece limite nem da razão compadece,

Mas permite que se deite por cima do Cosmo e,

Em sua paz amanheça, com a amada do lado.

 

Contudo, pelo que sei e pelo que não sei

Algo me diz que você me deixará enfim.

Quem sabe demore um lustro desta vez,

Mas afinal se vai daqui, se vai de mim.

 

Aí, então, quando eu não tiver mais você,

Vou encher de saudade o meu coração, e

Ficar olhando seu sorriso bem de longe

Até me ver consumido por esta solidão.

 

Assim, talvez um dia, seguindo em frente,

Procurando ainda o bem que não veio,

Você me ache num canto da vida novamente

Sussurrando a quem passe por este devaneio louco,

Pedindo a alguém que me dê seu amor... Só por pouco.

 

 

Primavera de 1998  José Mauricio de Barcellos


........................................................................


 

LEMBRANDO DO PAPAI

 

As vezes me ocorre telefonar e

Nem me dou conta

Que aquela voz, forte e risonha,

Não vai me responder jamais...

- Papai? O quê que há rapaz?


Meu Deus, que falta que ele me faz!

Meu Deus, que saudade que ele me traz!

 

Por isso fico olhando para ele:

Vejo-o há 40 anos, sempre forte,

Falando do trabalho, dos negócios, da política;

As voltas com a irmã Lourdes e com o Tio Nogueira.

Tão cheio de planos e esperanças,

Voltando para casa, para a Lygia e para as crianças...

 

Fico olhando-o há 35 anos passados:

Nas tardes de sábado, na missa e nos almoços dos domingos;

Com os dez filhos a gritar,

Resolvendo tudo na vida,

Que nunca o cansou no passar.

 

Sinto-o colocando-nos para fora da cama,

Para dentro do mundo, com seguro empurrão.

Ensinando-nos a vencer e a lutar,

A temer a Deus e amar o irmão,

 

Vejo-o junto à mamãe, tão firme, tema e calma,

Raiz desse jacarandá apaixonado,

Esteio da vida inteira,

Amando-a como se fosse namorado.

 

Vejo-o num hospital da paulicéia:

Penando aos pés do leito da sua moreninha,

Que Deus, por infinita misericórdia,

 Deixou viva, lúcida e sã,

 Para nos mostrar o exemplo de uma vida cristã.

 

Lembro dele com bem mais de setenta:

Não era velho para deixar de fazer

Sobrava nele vontade de viver

E nem de brincadeira queria falar de parar.

 

Fico olhando para as suas discussões:

Fortes alaridos, enormes confusões.

Quanto mais velho, mais ele se impunha,

E na síntese de tudo, restavam grandes lições...

 

Vejo os dois sentadinhos,

De mãos dadas diante da televisão.

Discutindo as coisas do mundo e

Escondendo-se, para ficar sozinhos,

Longe de sua multidão...

 

Vejo o companheiro pronto para esclarecer,

O católico crente na força do ser.

Vejo o homem, o político e o profissional,

Convicto da palavra de Cristo e na derrota do mal..

 

Meu Deus, que falta que ele me faz!

Meu Deus que saudades que ele me traz!

 

Vejo como tantas vezes o vi:

Na frente da sua comitiva,

Adiante de toda nossa gente,

Puxando a vida, até não agüentar mais,

Só para que soubéssemos como é que se faz...

 

Vi tudo isso, só não quis lhe ver doente,

Porque homens como ele não passam jamais.

Não acabam, apenas seguem firmemente

E vão para junto de Deus,

Cuidar de nós eternamente.

 

Primavera de 1998      Jose Mauricio de Barcellos


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FALANDO DA VERDADE

(Como Disseram Os Pensadores)

 

Consta que um dia um velho sábio socorreu um jovem aflito, as vésperas de seu primeiro embate diante dos poderosos e autoridades: - Fale a verdade, agarre-se a ela, disse o Mestre. Essa gente possivelmente dela já se esqueceu, há muito tempo. Foi o que o jovem fez, e durante toda sua vida não encontrou jamais quem o derrotasse.

As estradas da verdade nem sempre são as mais fáceis de trilhar, por vezes são caminhos penosos e cansativos, mas jamais nos conduzem ao precipício. Nelas encontramos as árvores que demoram crescer, com raízes profundas, cujos frutos são doces e a proteção duradoura.

A verdade é o sustento do espírito. Um alimento da consciência do tipo que não perece jamais, quando cultivado pela firmeza, pela coragem e pela doçura do homem tenaz.

A verdade é a luz que vem da alma. É como um farol incandescente que indica o rumo no oceano da existência.

A verdade é o princípio de toda perfeição; fora dela a graça é efêmera, a beleza falsa e a vida vazia.

Em verdade, as verdades são simples. O homem é que a complica para poder contorná-las.

Quando somos levados a esquecer nosso compromisso com a verdade, nos convencemos de sua irrelevância e desinfluência, apenas para não suportar o remorso que isto nos trás. Quando isso ocorre o malefício que suportamos e um milhão de vezes menor que o mal exemplo que transmitimos.

Não é fácil descobrir a verdade sem trilhar os caminhos da modéstia, do comedimento, da bondade a da perseverança.

A verdade não se esconde em abismos impenetráveis, porque se fosse assim o homem teria que se aviltar para encontrá-la. A verdade se situa nas alturas mais elevadas, para onde o pensamento tem que subir em busca dela.

Somente alcançamos o templo da verdade, quando antes a alma sobe a Deus, indicando a linha de correção.

Quando discutimos a verdade, não podemos nos considerar superior ou inferior, nem considerar títulos e idades. A verdade não tem donos ou rótulos, não tem nuances ou versão, não se fraciona, não se decompõe e não se mescla.

Não há verdade sem liberdade, nem esta pode ser garantida ao homem que não cultivar aquela. Retire do homem o apreço à verdade e tereis uma sociedade de opressores e oprimidos.

O amor à verdade é o penúltimo bem que se pode arrancar do homem. O último é a própria vida. 

O mais miserável dos homens pode viver com sua verdade. Essa é uma faculdade muitas vezes negada aos ricos e poderosos.

Dita pelo homem, a verdade impressiona, dita pela mulher a verdade fascina. 

Não há amor mais verdadeiro que o amor de mãe, nem verdade mais forte do que nos transmitiu o pai. 

Infeliz do homem que um dia não se deixou levar pela verdade de uma mulher, certamente viveu sem amar.

A mentira de hoje não foi à verdade de ontem, porque o tempo não a corrompe, pois Deus é o Senhor do tempo e a verdade é o Filho de Deus. 

A morte era a verdade completa, até o dia em que o Cristo ressuscitou e venceu a morte. A partir dai a vida eterna é a verdade absoluta. 

A verdade do amor a teu irmão é que revela o teu amor a Deus.

Um dia, quando nada mais restar ao homem, a verdade será seu derradeiro refúgio. 

Ele disse: Eu sou a Verdade, a Luz e a Vida. Porque os homens insistem em procurar a verdade onde ela não está?


Verão de 2001- (Reflexões de José Mauricio de Barcellos)


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ACRÓSTICO DO AVÔ

(2)

 

Andem, andem, corram todos!

Logo no início do Ano Novo

Inesperadamente veio chegando,

Cheia da Graça que Deus lhe deu, a

Esperança maior, fruto de um amor que venceu.

                     

( QUEM É? )

 

 

Verão de 2004        Jose Mauricio de Barcellos

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CANTIGA PARA ALESSANDRA MARIA

 

A natureza mandou me dizer, de forma suave e clara,

Por conta da vontade de Deus, Nosso Senhor,

Que um sinal da flor anunciaria a vinda

De um sonho colorido de alegria e graça,

Que há mais de trinta anos me embala a vida.

 

Poucos, muito poucos, podem amar com seu ardor,

Nunca se viu tanta entrega, tanta dedicação.

Quem puder que aproveite desse amor

Porque de certo não vai padecer de solidão.

 

Por que Deus me deu você?

Quem souber diga se foi mérito ou não.

Por mais que pense não sei responder.

Mas se passar toda a vida a agradecer

A Ele não demonstro minha gratidão.

 

Por Alessandra a filha querida e mãe dedicada,

Por Alessandra a irmã de todo dia e a amiga sincera,

Por Alessandra a menina tão simples e a guerreira tão brava,

Por Alessandra a mulher de um sonho de quem lhe ame por nada.

 

Pois essa é a minha menina.

Quem eu quero que seja mais ainda.

De quem me alegro, confio e espero,

E que se me faltasse só um dia na vida

Mataria-me vazio, antes do fim da jornada.

 

Primavera de 2005             Jose Mauricio de Barcellos 



QUEM É VOCÊ?

 

Será você o meu amanhã?

Ou o bem maior que alguém terá?

Benquerença ou não, p'ra quem perguntar?

 

Contigo fui por um mundo de cor

Do jeito que a vida quis dispor

Sabendo que nada era só meu

Como só você viu tão seu.

 

Conselhos, limites e razões nunca importam.

São farrapos de uma luta em vão,

Porque não são nas lições que se encontram

As coisas mais belas de uma paixão.

 

Iluminando a vida você me levou liberto

Tirado d'onde não se via mais por perto

Algo tão forte, tão cândido e louco

Como o grito rouco desse amor perdido.

 

Não quero pedir que fique

Nem manter ninguém cativo dessa solidão.

Sofrendo embora basta saber que você existe

Gravada a ouro nas entranhas deste coração.

 

Não me diga adeus menina.

Não me mande p'ra longe dessa aura linda,

Pois sei que um dia te encontro ainda

E se for lá em cima, bem pertinho de Deus,

Vou implorar que, por toda eternidade,

Não deixe morrer o amor que Ele me deu.

 

 

Verão de 2006        Jose Mauricio de Barcellos


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A HORA DO ANGELUS

 

Boa tarde amigo. Como vai o bom companheiro?

Desça um pouco dessa vida corrida.

Sente comigo neste banco da praça.

Vem olhar o horizonte desse dia que vai indo,

É hora de agradecer por todo bem e toda graça.

 

Boa tarde. Eu estou bem - obrigado, mas

Ao sair de casa vou assim pensando

Que alguém que lá deixei se põe a rezar.

Porém todo dia acabo voltando, e

Isso é melhor do que não trabalhar.

 

Que trabalho qual nada é tudo oriundo

De uma guerra insana e sem clemência,

Onde o poder pelo poder e a ganância do mundo

Esmaga aquele que ousar ter consciência.

 

Vem, então, a metade da jornada. Que satisfação.

Contudo se não fico esperto, perco a hora da refeição.

É justo aqui que vejo ao olhar p'ro lado

O pequenino que se esconde envergonhado

Pois não lhe restou algum nem mesmo p'ro café com pão.

 

Mas aí está novamente toda a correria.

Na parte da tarde nunca cabe mesmo

Tudo quanto ficou para fazer no dia.

E pensar que por isso pagamos alto preço

Quando bem pouco se precisaria.

 

É hora de atender as cobranças

Da família, do patrão, do fisco e da prestação.

De todos os ônus que a vida nos traz

E que só a morte de tudo nos livra.

Sendo assim, não reclamo delas não. 

 

Agora é tempo de regressar

P'ra casa, meu refúgio, meu altar.

Porque é ali, num canto só meu

Que Dele recebo a força para continuar.

 

Hoje, entretanto, aceitei teu convite amigo,

Para brindar a vida diante desse crepúsculo

E com esta cantiga que é uma oração também

Dizer junto que se faça em nós a vontade Dele

E que Ele nos livre de todo mal....., Amém.

 

 

Verão de 2006              José Mauricio de Barcellos


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O AMOR E O TEMPO

 

Soube. Ouvi dizer. Por isso hei de contar.

Foi assim, sem notícia, bem devagarzinho,

Com um modo fino de quem não vai ficar,

Que o amor se instalou dentro do peito

Lá fez morada, sua base e seu ninho.

 

Dê-me Senhor, então, o talento de mil sábios,

E toda rima dos trovadores do mundo

Pois não é justo que eu cante tal sentimento

Que por Sua obra nasceu dentre nós deste jeito,

Sem a beleza e a força que tem o amor perfeito.

 

Surgiu de um carinho. Um amor alegria.

De tudo e p'ra todos na vida sorriam.

Já que a mocidade e o sonho imperavam

Não havia o temor do que podia chegar.

Por nada o bem que brotou iria passar.

 

Como viver sem respirar essa flor de perto?

As esperas, por mais curtas, sempre doíam...

Os reencontros punham fim anos de vigília

Que na verdade horas representavam

Mas que o jovem amor não suportaria.

 

Nenhum desgosto ou malvadez da vida

Do seu coração o riso roubava.

Quanto mais longa e árdua a estrada

Era quase nada, porém grande a agonia,

Para defender de tudo a mulher amada.

 

Mas o tempo (implacável) mudou a fantasia

E do amar sem limites nasceu o desejo

O anseio viaja e o corpo sucumbe ao

Calor da frase e a sedução do gesto e

O que antes foi livre, agora aprisiona e vicia.

 

Então seguiram os amantes essa magia

Que a mulher pratica com tanto encanto

Só p'ra ter cativo um coração perdido.

E se pensou ele que vencê-la seria lindo,

Vencida ela sabia que o teria como escravo.

 

Por qual motivo seria dessemelhante?

Na falta do outro, coisa alguma tinha valor.

Doce é o dilema dos que se perderam por amor,

Se fugirem dele morrem aos poucos todo dia,

Se a ele entregam-se nem dispõem da própria vida.

 

Mas a razão vem socorrer o espírito.

Ela, que tem a idade do tempo, modela o ímpeto.

E ao ter que restou satisfeita a paixão,

O que antes era prazer desmedido,

Transforma, com ternura, num só coração.

 

Novos sentidos passam ter suas vidas.

Do enlevo surge a confiança plena

Do desejo ficou marota recordação.

É tão simples agora a entrega perfeita

E o respeito leva aqueles dois à devoção.

 

Quem não viveu decerto nem imagina

O quanto se há de bendizer esse destino,

Onde se juntam o amigo e a amante,

Presos e acorrentados um no outro,

Seguros d'uma união que vence a morte.


Por conta disto trago isso p'ra você, meu amigo.

Tem grande ventura aquele que percorreu tal caminho,

Pois no fundo o amor é o ápice do sentimento,

Que ultrapassando todos os limites da criação,

Faz-nos semelhante a um Deus, que também se entregou por paixão.

 

Inverno de 2007                     Jose Mauricio de Barcellos



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ACRÓSTICO DO TIO


Prisca. Ora, é um amor de menina....

Restaria, então, algo p'ra se dizer ainda?

Imaginem vocês o que mais a definiria,

Senão o doce sentimento que ponho nesta redondilha.

Com certeza que ela veio ao mundo

Indicando com toda segurança, que ao

Longo de nossas existências o bom Deus

Adoça a vida dos filhos com mimos e sinais de esperança.

 

Agora que você viveu um pouco e tem consciência

Do quanto nos precisamos do seu amor

Lembre sempre, minha "rebelde garotinha",

Enquanto nos respirar de perto e depois, ainda que muito além,

Reze sempre por nós, porque você é fruto de nossa oração, também.

 

Outono de 2009   Jose Mauricio de Barcellos


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                 AMIGOS DE TODA VIDA


Circunstâncias existem neste velho mundo

Que nos invadem e moldam a existência.

Juram os crentes que são obras do Divino e

Até os mais céticos admitem a transcendência.

 

Ao se apresentarem inteiras em nossas vidas

Nem ainda reunimos experiência para avaliar

A dimensão daquilo que vai nos arrebatar.

Apenas sentimos que vão passando bem devagar

Sem perceber que cravam n'alma a consistência.

 

Aí um dia o tempo nos desperta da letargia e

Faz-nos cônscios dessa Graça alvissareira

Advinda porque amealhamos pelo caminho

Leais amigos, frutos de amizade verdadeira e

Que assim o foram, ao longo da vida inteira...

 

 Verão de 2013     Jose Mauricio de Barcellos



O ACRÓSTICO DO AVÔ

(1)

L uz e sinal de esperança no

U niverso de amor de Luisa e André

C ompensação maior p'ros avós, na

A legre vinda que encanta, como um

S ublime presente de DEUS a todos nós.

 

Outono de 1997    JOSE Mauricio de Barcellos


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ALMA ERMA

 

Hei garota! Espera um tantinho.

Você que pela vida vai perpassando,

Está ouvindo meu coração agora?

Releve se lhe roubo o tempo,

Mas o que vou pedir não demora.

 

Será que poderia gostar um pouco de mim?

É só isso, nada mais. É tão simples assim.

Gostar de mim. Por muito talvez não seria....

Algo efêmero, mas forte. Acha que poderia?

 

Por quanto tempo? Bem, não vou dizer.

O tempo quem faz é você, só não lamento.

Será pelos momentos que você me quiser.

E a rigor é sempre mais do que tenho.

 

Sendo desse jeito, fazemos um trato.

Nada de sofrer, de mentira, de abandono.

Se for alegre a gente ri, se for triste chora.

Perdidos no fundo desse envolvimento e

Convictos de que nunca se vai embora.

 

E se caminharmos juntos dessa maneira

Consinta que em nós cresçam por dentro

O amor sentimento e a entrega inteira,

Sem fórmulas, sem contrato, sem preconceito...

 

 

E depois? Será como o bom Deus disse

Aquele amor, força de tudo, da vida é a fonte,

Não conhece limite nem da razão compadece,

Mas permite que se deite por cima do Cosmo e,

Em sua paz amanheça, com a amada do lado.

 

Contudo, pelo que sei e pelo que não sei

Algo me diz que você me deixará enfim.

Quem sabe demore um lustro desta vez,

Mas afinal se vai daqui, se vai de mim.

 

Aí, então, quando eu não tiver mais você,

Vou encher de saudade o meu coração, e

Ficar olhando seu sorriso bem de longe

Até me ver consumido por esta solidão.

 

Assim, talvez um dia, seguindo em frente,

Procurando ainda o bem que não veio,

Você me ache num canto da vida novamente

Sussurrando a quem passe por este devaneio louco,

Pedindo a alguém que me dê seu amor... Só por pouco.

 

 

Primavera de 1998  José Mauricio de Barcellos


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LEMBRANDO DO PAPAI

 

As vezes me ocorre telefonar e

Nem me dou conta

Que aquela voz, forte e risonha,

Não vai me responder jamais...

- Papai? O quê que há rapaz?


Meu Deus, que falta que ele me faz!

Meu Deus, que saudade que ele me traz!

 

Por isso fico olhando para ele:

Vejo-o há 40 anos, sempre forte,

Falando do trabalho, dos negócios, da política;

As voltas com a irmã Lourdes e com o Tio Nogueira.

Tão cheio de planos e esperanças,

Voltando para casa, para a Lygia e para as crianças...

 

Fico olhando-o há 35 anos passados:

Nas tardes de sábado, na missa e nos almoços dos domingos;

Com os dez filhos a gritar,

Resolvendo tudo na vida,

Que nunca o cansou no passar.

 

Sinto-o colocando-nos para fora da cama,

Para dentro do mundo, com seguro empurrão.

Ensinando-nos a vencer e a lutar,

A temer a Deus e amar o irmão,

 

Vejo-o junto à mamãe, tão firme, tema e calma,

Raiz desse jacarandá apaixonado,

Esteio da vida inteira,

Amando-a como se fosse namorado.

 

Vejo-o num hospital da paulicéia:

Penando aos pés do leito da sua moreninha,

Que Deus, por infinita misericórdia,

 Deixou viva, lúcida e sã,

 Para nos mostrar o exemplo de uma vida cristã.

 

Lembro dele com bem mais de setenta:

Não era velho para deixar de fazer

Sobrava nele vontade de viver

E nem de brincadeira queria falar de parar.

 

Fico olhando para as suas discussões:

Fortes alaridos, enormes confusões.

Quanto mais velho, mais ele se impunha,

E na síntese de tudo, restavam grandes lições...

 

Vejo os dois sentadinhos,

De mãos dadas diante da televisão.

Discutindo as coisas do mundo e

Escondendo-se, para ficar sozinhos,

Longe de sua multidão...

 

Vejo o companheiro pronto para esclarecer,

O católico crente na força do ser.

Vejo o homem, o político e o profissional,

Convicto da palavra de Cristo e na derrota do mal..

 

Meu Deus, que falta que ele me faz!

Meu Deus que saudades que ele me traz!

 

Vejo como tantas vezes o vi:

Na frente da sua comitiva,

Adiante de toda nossa gente,

Puxando a vida, até não agüentar mais,

Só para que soubéssemos como é que se faz...

 

Vi tudo isso, só não quis lhe ver doente,

Porque homens como ele não passam jamais.

Não acabam, apenas seguem firmemente

E vão para junto de Deus,

Cuidar de nós eternamente.

 

Primavera de 1998     Jose Mauricio de Barcellos


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FALANDO DA VERDADE

(Como Disseram Os Pensadores)

 

Consta que um dia um velho sábio socorreu um jovem aflito, as vésperas de seu primeiro embate diante dos poderosos e autoridades: - Fale a verdade, agarre-se a ela, disse o Mestre. Essa gente possivelmente dela já se esqueceu, há muito tempo. Foi o que o jovem fez, e durante toda sua vida não encontrou jamais quem o derrotasse.

As estradas da verdade nem sempre são as mais fáceis de trilhar, por vezes são caminhos penosos e cansativos, mas jamais nos conduzem ao precipício. Nelas encontramos as árvores que demoram crescer, com raízes profundas, cujos frutos são doces e a proteção duradoura.

A verdade é o sustento do espírito. Um alimento da consciência do tipo que não perece jamais, quando cultivado pela firmeza, pela coragem e pela doçura do homem tenaz.

A verdade é a luz que vem da alma. É como um farol incandescente que indica o rumo no oceano da existência.

A verdade é o princípio de toda perfeição; fora dela a graça é efêmera, a beleza falsa e a vida vazia.

Em verdade, as verdades são simples. O homem é que a complica para poder contorná-las.

Quando somos levados a esquecer nosso compromisso com a verdade, nos convencemos de sua irrelevância e desinfluência, apenas para não suportar o remorso que isto nos trás. Quando isso ocorre o malefício que suportamos e um milhão de vezes menor que o mal exemplo que transmitimos.

Não é fácil descobrir a verdade sem trilhar os caminhos da modéstia, do comedimento, da bondade a da perseverança.

A verdade não se esconde em abismos impenetráveis, porque se fosse assim o homem teria que se aviltar para encontrá-la. A verdade se situa nas alturas mais elevadas, para onde o pensamento tem que subir em busca dela.

Somente alcançamos o templo da verdade, quando antes a alma sobe a Deus, indicando a linha de correção.

Quando discutimos a verdade, não podemos nos considerar superior ou inferior, nem considerar títulos e idades. A verdade não tem donos ou rótulos, não tem nuances ou versão, não se fraciona, não se decompõe e não se mescla.

Não há verdade sem liberdade, nem esta pode ser garantida ao homem que não cultivar aquela. Retire do homem o apreço à verdade e tereis uma sociedade de opressores e oprimidos.

O amor à verdade é o penúltimo bem que se pode arrancar do homem. O último é a própria vida. 

O mais miserável dos homens pode viver com sua verdade. Essa é uma faculdade muitas vezes negada aos ricos e poderosos.

Dita pelo homem, a verdade impressiona, dita pela mulher a verdade fascina. 

Não há amor mais verdadeiro que o amor de mãe, nem verdade mais forte do que nos transmitiu o pai. 

Infeliz do homem que um dia não se deixou levar pela verdade de uma mulher, certamente viveu sem amar.

A mentira de hoje não foi à verdade de ontem, porque o tempo não a corrompe, pois Deus é o Senhor do tempo e a verdade é o Filho de Deus. 

A morte era a verdade completa, até o dia em que o Cristo ressuscitou e venceu a morte. A partir dai a vida eterna é a verdade absoluta. 

A verdade do amor a teu irmão é que revela o teu amor a Deus.

Um dia, quando nada mais restar ao homem, a verdade será seu derradeiro refúgio. 

Ele disse: Eu sou a Verdade, a Luz e a Vida. Porque os homens insistem em procurar a verdade onde ela não está?


Verão de 2001- (Reflexões de José Mauricio de Barcellos)


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ACRÓSTICO DO AVÔ

(2)

 

A ndem, andem, corram todos!

L ogo no início do Ano Novo

I nesperadamente veio chegando,

C heia da Graça que Deus lhe deu, a

E sperança maior, fruto de um amor que venceu.

                     

( QUEM É? )

 

 

Verão de 2004        Jose Mauricio de Barcellos

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CANTIGA PARA ALESSANDRA MARIA

 

A natureza mandou me dizer, de forma suave e clara,

Por conta da vontade de Deus, Nosso Senhor,

Que um sinal da flor anunciaria a vinda

De um sonho colorido de alegria e graça,

Que há mais de trinta anos me embala a vida.

 

Poucos, muito poucos, podem amar com seu ardor,

Nunca se viu tanta entrega, tanta dedicação.

Quem puder que aproveite desse amor

Porque de certo não vai padecer de solidão.

 

Por que Deus me deu você?

Quem souber diga se foi mérito ou não.

Por mais que pense não sei responder.

Mas se passar toda a vida a agradecer

A Ele não demonstro minha gratidão.

 

Por Alessandra a filha querida e mãe dedicada,

Por Alessandra a irmã de todo dia e a amiga sincera,

Por Alessandra a menina tão simples e a guerreira tão brava,

Por Alessandra a mulher de um sonho de quem lhe ame por nada.

 

Pois essa é a minha menina.

Quem eu quero que seja mais ainda.

De quem me alegro, confio e espero,

E que se me faltasse só um dia na vida

Mataria-me vazio, antes do fim da jornada.

 

Primavera de 2005    Jose Mauricio de Barcellos 

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QUEM É VOCÊ?

 

Será você o meu amanhã?

Ou o bem maior que alguém terá?

Benquerença ou não, p'ra quem perguntar?

 

Contigo fui por um mundo de cor

Do jeito que a vida quis dispor

Sabendo que nada era só meu

Como só você viu tão seu.

 

Conselhos, limites e razões nunca importam.

São farrapos de uma luta em vão,

Porque não são nas lições que se encontram

As coisas mais belas de uma paixão.

 

Iluminando a vida você me levou liberto

Tirado d'onde não se via mais por perto

Algo tão forte, tão cândido e louco

Como o grito rouco desse amor perdido.

 

Não quero pedir que fique

Nem manter ninguém cativo dessa solidão.

Sofrendo embora basta saber que você existe

Gravada a ouro nas entranhas deste coração.

 

Não me diga adeus menina.

Não me mande p'ra longe dessa aura linda,

Pois sei que um dia te encontro ainda

E se for lá em cima, bem pertinho de Deus,

Vou implorar que, por toda eternidade,

Não deixe morrer o amor que Ele me deu.

 

 

Verão de 2006        Jose Mauricio de Barcellos


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A HORA DO ANGELUS

 

Boa tarde amigo. Como vai o bom companheiro?

Desça um pouco dessa vida corrida.

Sente comigo neste banco da praça.

Vem olhar o horizonte desse dia que vai indo,

É hora de agradecer por todo bem e toda graça.

 

Boa tarde. Eu estou bem - obrigado, mas

Ao sair de casa vou assim pensando

Que alguém que lá deixei se põe a rezar.

Porém todo dia acabo voltando, e

Isso é melhor do que não trabalhar.

 

Que trabalho qual nada é tudo oriundo

De uma guerra insana e sem clemência,

Onde o poder pelo poder e a ganância do mundo

Esmaga aquele que ousar ter consciência.

 

Vem, então, a metade da jornada. Que satisfação.

Contudo se não fico esperto, perco a hora da refeição.

É justo aqui que vejo ao olhar p'ro lado

O pequenino que se esconde envergonhado

Pois não lhe restou algum nem mesmo p'ro café com pão.

 

Mas aí está novamente toda a correria.

Na parte da tarde nunca cabe mesmo

Tudo quanto ficou para fazer no dia.

E pensar que por isso pagamos alto preço

Quando bem pouco se precisaria.

 

É hora de atender as cobranças

Da família, do patrão, do fisco e da prestação.

De todos os ônus que a vida nos traz

E que só a morte de tudo nos livra.

Sendo assim, não reclamo delas não. 

 

Agora é tempo de regressar

P'ra casa, meu refúgio, meu altar.

Porque é ali, num canto só meu

Que Dele recebo a força para continuar.

 

Hoje, entretanto, aceitei teu convite amigo,

Para brindar a vida diante desse crepúsculo

E com esta cantiga que é uma oração também

Dizer junto que se faça em nós a vontade Dele

E que Ele nos livre de todo mal....., Amém.

 

 

Verão de 2006           José Mauricio de Barcellos


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O AMOR E O TEMPO

 

Soube. Ouvi dizer. Por isso hei de contar.

Foi assim, sem notícia, bem devagarzinho,

Com um modo fino de quem não vai ficar,

Que o amor se instalou dentro do peito

Lá fez morada, sua base e seu ninho.

 

Dê-me Senhor, então, o talento de mil sábios,

E toda rima dos trovadores do mundo

Pois não é justo que eu cante tal sentimento

Que por Sua obra nasceu dentre nós deste jeito,

Sem a beleza e a força que tem o amor perfeito.

 

Surgiu de um carinho. Um amor alegria.

De tudo e p'ra todos na vida sorriam.

Já que a mocidade e o sonho imperavam

Não havia o temor do que podia chegar.

Por nada o bem que brotou iria passar.

 

Como viver sem respirar essa flor de perto?

As esperas, por mais curtas, sempre doíam...

Os reencontros punham fim anos de vigília

Que na verdade horas representavam

Mas que o jovem amor não suportaria.

 

Nenhum desgosto ou malvadez da vida

Do seu coração o riso roubava.

Quanto mais longa e árdua a estrada

Era quase nada, porém grande a agonia,

Para defender de tudo a mulher amada.

 

Mas o tempo (implacável) mudou a fantasia

E do amar sem limites nasceu o desejo

O anseio viaja e o corpo sucumbe ao

Calor da frase e a sedução do gesto e

O que antes foi livre, agora aprisiona e vicia.

 

Então seguiram os amantes essa magia

Que a mulher pratica com tanto encanto

Só p'ra ter cativo um coração perdido.

E se pensou ele que vencê-la seria lindo,

Vencida ela sabia que o teria como escravo.

 

Por qual motivo seria dessemelhante?

Na falta do outro, coisa alguma tinha valor.

Doce é o dilema dos que se perderam por amor,

Se fugirem dele morrem aos poucos todo dia,

Se a ele entregam-se nem dispõem da própria vida.

 

Mas a razão vem socorrer o espírito.

Ela, que tem a idade do tempo, modela o ímpeto.

E ao ter que restou satisfeita a paixão,

O que antes era prazer desmedido,

Transforma, com ternura, num só coração.

 

Novos sentidos passam ter suas vidas.

Do enlevo surge a confiança plena

Do desejo ficou marota recordação.

É tão simples agora a entrega perfeita

E o respeito leva aqueles dois à devoção.

 

Quem não viveu decerto nem imagina

O quanto se há de bendizer esse destino,

Onde se juntam o amigo e a amante,

Presos e acorrentados um no outro,

Seguros d'uma união que vence a morte.


Por conta disto trago isso p'ra você, meu amigo.

Tem grande ventura aquele que percorreu tal caminho,

Pois no fundo o amor é o ápice do sentimento,

Que ultrapassando todos os limites da criação,

Faz-nos semelhante a um Deus, que também se entregou por paixão.

 

Inverno de 2007         Jose Mauricio de Barcellos



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ACRÓSTICO DO TIO


P risca. Ora, é um amor de menina....

R estaria, então, algo p'ra se dizer ainda?

I maginem vocês o que mais a definiria,

S enão o doce sentimento que ponho nesta redondilha.

C om certeza que ela veio ao mundo

I ndicando com toda segurança, que ao

L ongo de nossas existências o bom Deus

A doça a vida dos filhos com mimos e sinais de esperança.

 

A gora que você viveu um pouco e tem consciência

D o quanto nos precisamos do seu amor

L embre sempre, minha "rebelde garotinha",

E nquanto nos respirar de perto e depois, ainda que muito além,

R eze sempre por nós, porque você é fruto de nossa oração, também.

 

Outono de 2009   Jose Mauricio de Barcellos


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ACRÓSTICO DO AVÔ

A lguém certamente um dia

M e perguntaria: homem que tanta graça que

A ssim do Céu te foi enviada e

N uma só vida, por muito não seria?

D iria que sim porque tanto não mereceria, mas

A primeira neta não é só minha é benção pra toda família.

 

I ndo mais adiante reconheceria que

E sta linda mulher de hoje, surpreendeu desde menina.

C omo filha, como neta, como amiga e grande irmã,

I rradiando muito amor e caridade,

N o âmago vindas de uma boa cristã.


Inverno de 2020 – José Mauricio de Barcellos


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